terça-feira, 17 de abril de 2012

Ecologia e criatividade I : O sentido da vida


O sentido da vida

Desenhos

No céu vi e escrevi
As fantasias de um poeta
que deixei de ser

As nuvens eram
Criaturas
de outro mundo

Dragões soltavam fogo
Enfrentando monstros descomunais
Numa batalha infindável

Na lua
São Jorge
Em seu cavalo alado
Lutava com o dragão

Hoje,
Vejo nuvens
Vai chover


Estrela da manhã
Acender uma luz em você
Acender luz você
Acende em você
Luz
Acende você
Eu vou acender uma luz em você?
Vou acender uma luz em você
Acende uma luz em você
Uma luz
Você
acende



Fotos (?)


A criança e o homem

Havia uma criança com imaginação muito fértil. Nas manhãs de sol, passava um tempo sentado, em silêncio, imaginando como seria o mundo lá onde o sol nascia, ou de onde a lua saia. Sua mãe, mulher sábia, tinha sempre uma resposta pronta. “O sol acaba de acordar e saiu para o passeio”. “A lua é a esposa do sol, mas eles nunca podem se encontrar, pois um é quente e o outro é frio.” Para completar, o arco-íris era a aliança de casamento do sol com a lua e na sua base, lá onde o sol nascia, estava um tesouro, guardado por duendes e outras criaturas mágicas.
Dessas histórias derivavam outras e assim o menino formava um novelo repleto de imagens e criações no mundo de um guri cheio de perguntas.
O tempo passou, veio a escola com seus enredos, os conteúdos de um mundo vasto, e o menino dos grandes olhos aos poucos foi encolhendo, saindo de cena. Acabou, com o lento passar dos dias, esquecido em um canto escuro da memória.

O homem andou por caminhos estreitos e largos, conheceu pessoas de lugares distantes, leu muitos livros e passou, então, a ter respostas prontas para os mistérios.
“Vejo nuvens escuras. Logo chove”, pensava ao olhar o céu.

Tempos depois as perguntas da infância voltaram. O menino retornou na vida adulta inquirindo:
Qual o sentido da vida?
Certamente acordar, comer, reproduzir, trabalhar e dormir não estava saciando a percepção sagaz do menino que há tempos não via o romance do sol com a lua, mas o passar dos dias carregado pela rotina.
Forçado por situações de crise, o homem teve que se voltar para as coisas do sol e da lua. Sabia que o tesouro não estava fácil de achar, mas com algum esforço, passou a desenrolar o novelo das fantasias infantis.
Ele não ouvia a voz do menino, mas sentia um desconforto crescente em sua vida. Algo não estava bem.
Em sua mente, uma voz suave dizia, nos raros momentos de silêncio que se permitia:
“Eu vou acender uma luz em você”.
Ele precisava dar espaço para o agir do menino dos grandes olhos em sua vida. Passou a observar a natureza, a fotografar, a fazer poemas. A voz, insistente, continuava:
acender uma luz em você.
Ele permitiu o crescer de algo verde e belo, um jardim, dentro dele. E se sentiu melhor. Assim, fazendo uma coisa de cada vez, foi deixando o menino dos grandes olhos agir, orientando-o nas opções e nas escolhas.
O homem voltou a ser um pouco menino. Os dois convivem em um espaço só deles, onde conversam e sorriem. Graças ao menino dos grandes olhos, o homem está redescobrindo um novo sentido para a sua vida.

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Ecos da criatividade

Paulo Freire, no livro Pedagogia da Autonomia (2005) define a criatividade como “ a força criadora do aprender de que fazem parte a comparação, a repetição, a constatação, a dúvida rebelde, a curiosidade não facilmente satisfeita”, (Freire,2005:25), algo que funciona como um antidoto aos efeitos negativos da “educação bancária”, a que congela, deforma e até mata a criança que trazemos dentro de nós.
O criador da Logoterapia, Victor Frankl, viveu criativamente e fez da arte de criar um estilo de vida. “Encontrei sentido em minha vida ajudando outros a descobrirem um sentido em cada circunstância de suas vidas”, assim ele resumia a sua terapia. (Pareja Herrera, 2008, 137).
A criatividade é algo inerente a todo ser humano, mas algumas pessoas precisam vivenciá-la de forma mais intensa, exercitando-a em praticamente todos os momentos da existência.

Em busca do sentido da vida, nestes tempos de aguda crise ambiental, social e
cultural, desenvolvi uma operação com os seguintes ingredientes:

Ambiente saudável + espaço + tranquilidade + autonomia + contemplação da beleza + tempo = novo sentido da vida.

Arte

Passei a carregar a operação no bolso, como um amuleto da sorte. E lentamente fomos implementando a mudança.
Ambiente saudável: Vendemos o apartamento e começamos a montar um sítio ecológico em uma área de 03 hectares, distante 20 km do centro de São Luís/Ma. E para lá nos mudamos, com três crianças pequenas. A operação não trouxe resultados muito confortáveis, tivermos que recuar, voltamos a morar na cidade, mas aí começou o novo sentido. Atualmente comemos frutas colhidas das árvores que plantamos. (Foto do sítio)
Espaço. Nasci no interior do Acre, no coração da Amazônia. Sem perceber, recriei no Maranhão um espaço assemelhado ao local onde nasci, com muito verde, flores e canto de pássaros. Há pernilongos, a estrada não é boa, mas as maravilhas trazem sempre os seus contrapesos.
Tranquilidade – Tive que fazer a transição para uma vida com baixo estresse..
Por um período tive que me afastar da rotina anterior. Abandonei o celular, tornei-me mais contemplativo. Adotei atividades manuais. Comecei a cuidar mais da casa e liberei o jardineiro que dormia.
Autonomia - Em vez da atividade de jornalista-professor-assessor, tornei-me escritor e ecologista. Trabalho muito, tenho escritório em casa. Ganho pouco, mas desbravo o espaço. Atualmente dou palestras e vivências, recebo grupos de pessoas no Sítio. E vendo livros. (Que comprar mais um?).
Contemplação da beleza – Aprendi a observar os pássaros, as flores, as plantas. Tento ouvir a música da natureza, o farfalhar das folhas das árvores. Hoje sei, ao olhar a lua, como estará a maré. Se a lua está cheia, as águas do mar estarão banhando o pequeno porto do sítio panakuí. Ótimo dia para um passeio de barco.... (foto da canoa no porto)
Tempo – Como o tempo é o bem mais precioso que temos, investi para poder usufruí-lo da melhor forma possível. Todos os dias levo as crianças ao colégio, almoço em casa e durmo aquela valorosa ciesta. Tenho tempo para as leituras, cuido do jardim, na pausa do texto, e deixo o dia fluir em seu ritmo natural, sem ter que atropelar o relógio para fazer mais do que é possível.

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